quarta-feira, dezembro 28, 2005

Reveillons e essas coisas

Ano velho, ano novo. Noção de tempo. Três conceitos que se entrecruzam e que me lançam numa cruzada contra a fantochada que afinal é esta coisa da passagem de ano. Não vou dizer que também não visto o traje de festa (entenda-se isto como uma metáfora) mas desde há algum tempo me questiono sobre a importância do Reveillon. Pessoas que gastam milhares de euros em festas de arromba, cruzeiros, viagens, por causa de um minuto que muda, tal como em todas as noites dos restantes 364 ou 365 dias do ano! Afinal de contas, o tempo é uma invenção dos homens.
Para além disso, há outra coisa que faz das festas de passagem de ano uma fantochada. Reparem: se, por exemplo, no mês de Agosto forem 00:00 do dia 31, uma quinta-feira, referimo-nos sempre a esse mesmo dia como "amanhã", porque para nós ainda é quarta. Ora, não é que é somente na data de 31 de Dezembro que nos lembramos de ser rigorosos e dizer que o dia muda das 23:59 para as 00:00?
Por último, outra questão: esse tal de ano deve achar-se alguém muito importante, para vir aos poucos, criar suspense. Vem devagarinho, poeticamente, chegando primeiro à Austrália e viajando por aí fora até à América. Bonita imagem para criar uma historinha para criança. Eu respondo com um: palhaçada! Façamos aqui um "suponhamos". Estou na Espanha, festejo a meia-noite e meto pé na estrada, voltando para Portugal. E chego à conclusão que a máquina do tempo existe e que é um carro porque afinal de contas estavá do lado de lá da fronteira e era 2006 (eu disse que era um "suponhamos") e agora estou do lado de cá e é 2005.
Inadmissível!
Mesmo assim, e se não nos virmos antes...
Boas Entradas!

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Espírito de Natal

Nesse dia, Rafael saiu à rua contra a sua vontade. Lá fora, o frio desaconselhava passeios prazerosos de final de tarde, mas apesar disso todos aqueles que se cruzavam com ele aparentavam um olhar triunfante e feições felizes. Uma rajada de vento mais azafamada fez levantar um saco em tons avermelhados, que ostentava orgulhosamente o nome de uma grande marca de roupas, e que parecia ter sido perdida por algum transeunte mais despistado. Rafael, mal-humorado desde cedo, preferiria entregar-se ao ócio caseiro e literário de uma tarde de Dezembro, que à enorme corrente de ruído inebriante que percorria as ruas repletas de um frio cosmopolita.
Tentou ludibriar os obstáculos com que se deparava no caminho – enormes manchas de cabeças muito pouco pensantes naquela altura, perdidas num mundo seu, só seu. Ansioso por cumprir a sua espinhosa missão e regressar ao conforto quente e familiar da sua casa, rompeu na primeira porta que lhe pareceu mais adequada, deparando-se com uma imensidão de casacos grossos e de marca pela frente. Nos corredores apinhados, fixou o olhar no que queria, procurando abstrair-se de uma discussão feroz que se erguia à sua volta. E por fim, sentia agora o calor reconfortante que parecia ter invadido todos aqueles que passavam por si.
"Boa tarde. Quanto é?"

As intermitências da língua

Um norte-americano do Texas, a morar há pouquíssimo tempo em Portugal e dominando mal o português, faz a sua lista de compras e vai ao supermercado, para abastecer a sua dispensa. Eis o que escreveu:
- pay she
- mac car on
- my one easy
- all face
- car need boy (may kilo)
- spa get
- her villas
- key jow (parm zoon)
- cow view floor
- pier men tom
- better hab
- lee moon
- bear in gel
- three go
No final, sai do supermercado, bate com a mão na testa e exclama:
- Food Ace! Is key see me do too much. Put a keep are you!
Alguém, "Algures," não sei quando

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Mario Soares vai processar portuenses

O candidato do Partido Socialista às eleições presidenciais de Janeiro, Mário Soares, afirmou esta quarta-feira que vai processar centenas de portuenses que o terão alegadamente agredido à "martelada" durante uma visita do ex-presidente à cidade do Porto para as comemorações das festas da cidade.
Em causa está uma fotografia que o candidato de 81 anos encontrou no bloso do seu robe, na tarde da passada segunda-feira, antes da sesta das 16h. "Fiquei muito abalado com aquela gravíssima agressão no domingo e os médicos aconselharam-me a repousar", pelo que Soares decidiu reservar as tardes para por o sono em dia. Foi por este acaso que o fundador do PS encontrou a fotografia em causa.
"Só não apresentei queixa mais cedo, porque já não me lembrava do acontecimento", afirmou o candidato, justificando o facto de a queixa surgir tanto tempo depois do alegado crime. Para além disso, Mário Soares deixou já bem claro que se for eleito presidente da República, irá abolir os festejos do S. João do Porto, para que as cenas de violência e vandalismo que assistiu e de que terá sido vítima não se voltem a repetir. O facto já incendiou a discussão sobre os limites do poder do Presidente da República.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Sai uma "cerveja vazia como o fim de Verão"

Setembro. Se existissem na língua portuguesa sinónimos para esta palavra penso que os melhores seriam melancolia, saudosismo, vazio interior. Chegou a altura de trocar a leve brisa de verão pela cortante rajada de vento outonal, a sufocante onda de calor solar pela não menos sufocante onda de calor dos cobertores de lã. Pior que tudo, trocar o leve deslizar pelas ruas de mochila cheia com toalha de praia e raquetes pelo pesaroso arrastar da mochila cheia... de livros e cadernos.

Temi estar a pactuar com a eutanásia precoce do Verão deste ano mas hoje, o dia em que para mim ele acaba oficialmente, até o próprio tempo resolveu pôr luto e chorar umas gotas de chuva, como que a dizer "Os meu pêsames, pessoal". Prefiro não pensar nos dias em que vou acordar cedo para a monótona rotina do levanta, come, arruma na pasta, sai a correr, "bom dia, stora, desculpe o atraso; o sumário? já escrevo!". Prefiro pensar nos dias em que acordei cedo para dar de caras com o sol de verão que acaba com qualquer restia de sono, ou naqueles que dormi até ser noite. Prefiro pensar em dizer "vou pra Caminha", em vez de sibilar "vou prá caminha". Prefiro tanta coisa a outras tantas que me vejo a fazer nos póximos 9 meses (vejam lá, até podia parir um filho no entretanto, se tivesse nascido de saias). É por isso que me recuso a aceitar que chegou setembro. Para mim, estamos em pleno julho e temos todo um verão pela frente para sair e sentar numa esplanada a ver o mar, as garinas, os sacos de cimento a boiar na água. Mas para nos acordar da miragem, alguem na mesa ao lado da nossa pede uma cerveja e o empregado responde com ar deprimido: «Cerveja? Só temos da vazia, "como um fim de verão!"»

sexta-feira, julho 01, 2005

A vida num transporte público

Pois bem, após longos meses sem voltar a sequer tocar ao de leve nesta rúbrica - se assim lhe podemos chamar - que há tempos decidi incluir n'A Ribeirinha, decidi retomar a temática.

Capítulo III - Os motoristas

Nem só os passageiros são motivo de interesse num autocarro. Desde as rodas do veículo até às portas de trás, tudo pode ser comentado. Desta vez escolhi os motoristas. Ele há os velhos, os novos, os de meia idade, os gordos que mal cabem no lugar a eles destinado, os magros que são sacudidos a cada curva e que devem chegar a casa cheios de nódoas após uma jornada de trabalho, os altos, os baixos, os feios, os bonitos e... os "Motoristas dos Óculos Escuros e Auriculares" - serão estes objectos fabricados a partir das auriculas, aquelas partes dos corações? Estes são, sem dúvida, os mais interessantes. Costumo perguntar-me se estes motoristas se julgam agentes da "Ci Ai Ei" ou do "Éfe Bi Ai", para vestirem aquela indumentária. Estão a ver o tipo? O dito motorista saca do auricular que tem um microfone instalado e comunica com alguém do outro lado da linha. Algo assim:

- Daqui agente Mâldar, do carro 1542, linha 8. Estou a descer a R. 5 de Outubro. Vislumbro um indíviduo de aspecto estranho: bigode, óculos de cor verde garrafa - aliás, parecem ser fundos de garrafas -, boné na cabeça e camisa de cores vivas e garridas. Alta probabilidade de ser alguma espécie de extra-terrestre disfarçado. Aguardo instruções.

Alguém do outro lado da linha resolve retorquir:

- Daqui agente Scali, sede dos STCP. Fonseca, deve haver milhares de sujeitos com essa descrição na cidade do Porto. Desimpede-me mas é a linha que é para emergências e deixa-te dessas manias. Deixa os óculos em casa, homem.

Foi mais uma situação altamente constrangedora que sucede num autocarro. Mas apenas uma gota num oceano...

Nota: Já consegui fazer melhor que isto, não já?

quarta-feira, junho 29, 2005

A Imagem de 2004 - O "puxo" de Luís Figo

Orgulho e dedicação

Passa-se hoje exactamente, 1 ano e 20 dias que escrevi o meu primeiro post neste blog. De facto, devo dizer que fico envergonhado de cada vez que leio aquela meia-dúzia de palavras, que devo de classificar como estupidas, parvas e sem sentido; mas por outro lado congratulo-me - ah, palavra bonita esta! - com a evolução que o meu ser registou ao longo deste ano.

É altura de fazer balanços - parece que já vejo, do lado de cá do monitor, os milhares de corpos que sustentam os vossos olhos, agitando-se de um lado pra o outro - e pensar no rumo e na dimensão que este blog tomou. De facto, a dimensão que este blog tomou - é extramente parvo repetir no início de uma frase o final da frase anterior, mas pronto - depende muito do tamanho dos monitores de todos vós, e hoje em dia eles - os monitores, entenda-se - estão cada vez maiores.

A Ribeirinha é hoje a Meca do mundo ocidental ou a Roma do mundo islâmico. Por isso mesmo está prevista a postação - acto de criar posts num blog - em árabe nos próximos dias. Tenho recebido milhares de telefonemas e mails de pessoas de todo o mundo parabenizando-me - palavra difícil de escrever esta, hein? - por tão especial data de que, devo esclarecer, me tinha esquecido completamente (e isto demonstra todo o meu orgulho e dedicação por este espaço).

Resta-me agradecer a todos aqueles que, pelo menos uma vez na vida, acessaram este blog e a todos os outros que nunca o fizeram mas que disseram ter lido e estar muito bom. O meu agradecimento dirige-se também àqueles que contribuem diariamente para o sucesso deste enorme projecto que parece ter pernas para continuar firme e hirto como uma barra de ferro por muitos e muitos anos.

Obrigado.

E agora brindemos!!!

sexta-feira, maio 27, 2005

Ninguém pára...

Onze anos! Foi muito tempo! Em 11 anos, Bill Clinton deu lugar a George W. Bush e Monica Lewinski foi apanhada com a boca no trombone. Em 11 anos, o Papa morreu e o Papa foi eleito. Em 11 anos, Cavaco foi primeiro-ministro, Guterres também, Durão Barroso igualmente e Santana Lopes idém. Em 11 anos, Alex assumiu-se como um ícone da música portuguesa e um grupo musical ganhou um prémio com uma canção dedicada a uma tal de "Nina".

Mas ninguém pára o Benfica!

Em 11 anos, o FC Porto foi campeão 7 vezes (5 seguidas), o Sporting 2, o Boavista 1. Em 11 anos, o FC Porto foi campeão europeu, vencedor da Taça UEFA, venceu três competições numa época, sagrou-se campeão do mundo. Em 11 anos, Portugal foi 3º classificado do Euro 2000 e foi finalista vencido do Euro 2004, realizado cá.

Mas ninguém pára o Benfica!

Em 11 anos, o Benfica esteve 2 ou 3 vez na Liga dos Campeões, perdeu 7-1 com o Celta de Vigo para a Taça UEFA e acabou um campeonato em 4º. Em 11 anos, o Benfica teve um presidente preso, outro bêbedo e outro que usa a palavra "pá" 7 vezes por frase.

Mas ninguém pára o Benfica!

Em 11 anos, o mundo chocou-se com o 11 de Setembro, os EUA invadiram o Iraque e a princesa Diana morreu. Em 11 anos, os homossexuais começaram a casar, a Internet tornou-se como um dos principais meios de comunicação e Herman José pintou o cabelo de loiro. Em 11 anos, tudo ficou diferente e nem as bolinhas de naftalina fizeram frente ao cheiro a mofo dos cachecóis do Benfica, guardados nas gavetas tanto tempo.

Mas claro, ninguém pára o Benfica!


P.S. - Informação actualizada segunda-feira 30 de Maio de 2005:

O Vitória de Setubal venceu o Benfica na final da Taça de Portugal no passado domingo por 2-1, conquistando o troféu.

Mas claro, ninguém pára o Benfica!

Voltei!

Cá estou eu de volta, mais de 3 meses após o meu último post, no qual prometia um acompanhamento exaustivo das eleições do passado mês de Fevereiro. Pois bem, por motivos de força maior - e agora proponho uma reflexão sobre esta expressão. O que poderá ser entendido como um motivo de força maior? Numa primeira análise poderão pensar: este gajo teve de ir à casa de banho mudar a água às azeitonas, e daí dizer que foram motivos de força (quando temos que puxar é lixado) maior. Mas, de facto, fui raptado (e só raptado, mais nada) por um conjunto de fulanos bem fortes, por isso é que foi um motivo de força maior... que a minha.

Mas dizia eu, que por esses motivos tive de me ausentar desta tão salutar correspondência com todos vós (já ouço as gargalhadas dos poucos que lerem isto, pensando: "Este magano pensa mesmo que tem um público fiel!") e não fiz acompanhamento nenhum sobre isso. E hoje, 90 dias, uma vitória do PS e outra do Benfica depois penso: "Ainda bem que não me dei a esse trabalho". E isso é muito positivo.

E deixo-vos com um belo ditado:
Quando ele sobe é sempre por culpa dos outros!

E agora tirem daqui ilações. Se conseguirem...

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Em breve n' A Ribeirinha...

Dossier: Rumo a Belém 2005
Debate a quatro mais um.

A não perder ainda esta semana n' A Ribeirinha o momento que poderá decidir a campanha eleitoral.

Faltam 3 dias!


domingo, fevereiro 13, 2005

Frase do dia

"É canja! É canja! Portugal, já é Laranja!"

Dossier: Rumo a Belém 2005!

Inicio hoje o dossier sobre as Legislativas 2005, que, promete a redacção d' A Ribeirinha, vai primar pela objectividade, imparcialidade e clareza no tratamento de tão nobre missão, a missão de informar...
Eu sei que é feio falar da vida privada, mas...
Muito se tem discutido sobre a possivel homossexualidade de José Socrates (como se isso fosse importante) durante a campanha eleitoral. Cumprindo a minha missão de informar, convido-vos a analisarem comigo estes excertos de alguns discuros do secretário-geral do Partido Socialista. Segundo o site do partido na Internet, José Socrates dirigiu-se aos "indecisos", em Coimbra, e "pediu-lhes que confiem no PS para mudar a orientação política do país sem abusos de poder", o que - parece-me a mim - nem vale a pena comentar: aos indecisos, mudar a orientação, ou seja, Socrates não só é homossexual como vai levar a cabo uma campanha de homossexualização dos indecisos. Mas há mais: "É preciso fazer escolhas [insiste na mesma ideia]. Ninguém pode olhar para o lado [principalmente se lá estiver uma linda mulher, terá dito entre-dentes] face aos actuais problemas do país"; "O voto no PS é seguro [até porque o partido promete um segurança calmeirão para cada um dos indecisos que forem votar]. É votar na confiança, na mudança [palavras para quê?], na estabilidade e no futuro de Portugal"; "Vamos fazer a vontade ao PSD [repare-se que é "ao" PSD]. Em Portugal haverá realmente um choque [mas não muito forte, que os "indecisos" são frágeis] de gestão na orientação [não se cansa de bater na mesma tecla] política deste país"; "Não teremos um governante que se atreva a dizer que tem vergonha [de facto, são uns desavergonhados] dos bombeiros [então se eles tiveram uns braços bem fortes...] e do Serviço Nacional de Protecção Civil."
Ora, se dúvidas havia...
P.S. (Post-Scriptum e não Partido Socialista): que fique claro que todas estas afirmações foram do líder do partido rosa (é impossível contornar esta ideia) mas que todos os comentários não pretendem ferir quaisquer susceptibilidades nem insinuar nada, até porque todas as fontes para tais considerações são provenientes de um cérebro altamente perturbado, sem qualquer responsabilidade na vida activa da sua casa - quanto mais do país - para poder referir tais acusações, que mesmo sendo verdadeiras, não interessam para nada...

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Breve, dizia eu...

Devo desculpar-me aos fieis seguidores (fiel, sou eu, não é verdade?), já que prometia no meu último post revelar os vencedores dos prémio "A Ribeirinha" 2004. Os nomes premiados foram devidamente notificados de tão gratificante distinção e numa grandiosa cerimónia, que decorreu no passado dia 5 de Janeiro num Coliseu do Porto repleto. Mas a minha completíssima agenda (está assim desde que me "meti" - esta é a palavra certa - em tão odiosa aventura) impediu-me de os revelar aqui atempadamente. Mas agora também não vale a pena, por isso, perguntem a uma da 3500 pessoas presentes no Coliseu naquela magnifica noite.
Outra noite magnífica, será a da festa anual deste grandioso blog, agendada para Março. Antes disso, prometo um acompanhamento intenso da campanha eleitoral, com a credibilidade que me é reconhecida.

Já agora deixou o cântico que me tem acompanhado ao longo dos últimos dias: "É Esquerda! É Bloco! É Bloco de Esquerda!"