quinta-feira, dezembro 22, 2005

Espírito de Natal

Nesse dia, Rafael saiu à rua contra a sua vontade. Lá fora, o frio desaconselhava passeios prazerosos de final de tarde, mas apesar disso todos aqueles que se cruzavam com ele aparentavam um olhar triunfante e feições felizes. Uma rajada de vento mais azafamada fez levantar um saco em tons avermelhados, que ostentava orgulhosamente o nome de uma grande marca de roupas, e que parecia ter sido perdida por algum transeunte mais despistado. Rafael, mal-humorado desde cedo, preferiria entregar-se ao ócio caseiro e literário de uma tarde de Dezembro, que à enorme corrente de ruído inebriante que percorria as ruas repletas de um frio cosmopolita.
Tentou ludibriar os obstáculos com que se deparava no caminho – enormes manchas de cabeças muito pouco pensantes naquela altura, perdidas num mundo seu, só seu. Ansioso por cumprir a sua espinhosa missão e regressar ao conforto quente e familiar da sua casa, rompeu na primeira porta que lhe pareceu mais adequada, deparando-se com uma imensidão de casacos grossos e de marca pela frente. Nos corredores apinhados, fixou o olhar no que queria, procurando abstrair-se de uma discussão feroz que se erguia à sua volta. E por fim, sentia agora o calor reconfortante que parecia ter invadido todos aqueles que passavam por si.
"Boa tarde. Quanto é?"

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