domingo, novembro 14, 2004

A vida num tranporte público

Capítulo II - as senhoras, os sacos e os vasos

Outra coisa que me intriga nas viagens de autocarro são as senhoras que aparecem dia após dia, sempre carregadas com inúmeros sacos, normalmente impressos com logotipos de lojas como "O Preço Certo", ou "Eurolândia", ou "O Planeta do Euro e Meio" (upgrade de Loja dos 300), cheios até cima (e olhem que eles não são pequenos), com um expressivo sorriso na cara, mas com as lamúrias de cansaço após um difícil dia de trabalho. "Ando consumida!" é a expressão que mais usam e que mais gosto de ouvir dizer. Depois há as frases típicas, que apelam à dificuldade da vida, ao estado da nação, aos patrões que embirram com elas e falham o pagamento ao fim do mês, as filhas que andam metidas com marmanjões que não trabalham e que elas não querem ver em casa, o marido que vai para o café ver o futebol e as deixa sozinhas e que depois volta irado e bêbado após uma derrota do seu clube e que falha nas respectivas responsabilidades conjugais, etc, etc. O que mais me intriga é o facto de elas gostarem de partilhar essas conversas com todo o autocarro, tendo em conta que elevam a voz a uns valores de decibéis bem consideráveis.

Por momentos pensei que estivesse a fugir ao tema do capítulo mas as senhoras dos sacos e dos vasos são, no fundo, um típico estilo de mulher portuguesa e merecem ver aqui caracterizada a sua maneira de agir.

Voltando aos sacos, devo dizer que me irritam profundamente. Tenho uma curiosidade insaciável de ver o que vem lá dentro quando as senhoras se atrevem a deslocar à parte traseira do autocarro, não deixando os sacos no espaço para isso reservado porque já estão cheios com sacos de outras senhoras. Mas o receio de ser apanhado e de consequentemente as senhores meterem conversa comigo para me explicarem o conteúdo fazem-me regir à tentação. O que torna a viagem mais complicada. Mas mais irritante que os sacos, meus amigos, são os... vasos. É incrivelmente irritante quando olho para a porta dianteira e vejo uma dessas senhoras, com um vaso cuja planta mede 1,90m - que quase não cabe no autocarro -, muito feliz a entrar com ar triunfante por ali a dentro, a encontrar um espaço livre e a sentar-se com o tal sorriso mas com as lamúrias de cansaço e vida difícil. Eu tenho a certeza que mesmo que comprem uma planta de 3 metros e meio vão insistir em levá-lo no autocarro, de preferência em hora de ponta com este completamente cheio, mesmo que tenham de o cortar às postas e dar de comer aos porcos (piada privado), isto é, que o tenham de cortar aos bocadinhos e colocar em sacos plásticos.

Será que estas senhoras não têm noção do ridículo? Ou pelo menos noção de que nem toda a gente se interessa pelas vidinhas tristes e monótonas sem tempo para nada a não ser ver novelas da TVI e a "Quinta das Celebridades" e o "Jornal Nacional" e o programa da manhã da RTP e o da tarde da SIC, que elas levam? Ou pelo menos que nem toda a gente gosta de plantas com o tamanho de postes da electricidade?

São questões retóricas meus amigos. Ninguém tem resposta.

Continua...



quinta-feira, novembro 04, 2004

God bless America!

E os americanos já escolheram. Nas eleições com maior participação nos últimos anos, George W. Bush foi o vencedor. Vamos ter de aturá-lo durante mais 4 anos. Bush é um homem de direita, muito religioso. É contra casamentos homossexuais, contra o aborto, contra a utilização de preservativos, contra o uso de mini-saias, contra os homens de cabelo comprido, contra os de esquerda (nos E.U.A. ser de esquerda é ser católico...), contra... Contra tudo isto e muito mais. Às vezes pergunto-me se ele será americano. Talvez desse para Papa, porque o próprio João Paulo II tem uma mente mais aberta que a dele.

O derrotado: John Kerry. Era o preferido entre os portugueses, entre os restantes europeus, entre os asiáticos, entre os africanos, entre os habitantes da Oceânia, da Antárctica, de todas as estações espaciais, da Lua, de Marte. E os próprios americanos preferiam-no até Osama bin Laden (ou não) ter feito mais um sério aviso à navegação. Aí, as intenções de voto mudaram porque Bush (segundo os especialistas de política externa dos órgãos de comunicação social) oferece garantias de maior segurança à população. Não sei porquê. Ainda me hão-de explicar como é que um homem de inteligência e tamanho reduzidos e mais interessado em jogar golfe do que nos problemas do seu país pode oferecer mais garantias que o "matulão" do Kerry.

Como caracterizar o derrotado? Homem de esquerda, católico (isto não soa lá muito bem), a favor do aborto e do casamento entre homossexuais (isto não soa mesmo nada bem). Realmente, o exemplo de um verdadeiro católico. Melhor só Paulo Portas. O democrata era o preferido entre os portugueses porque, como é normal entre nós, descobriu-se que o passado da sua esposa tem ligação a Portugal e ao ketchup: Tereza Heinz, nascida em Moçambique, viúva de um magnata do molho de tomate (Heinz). Já se sabe que sempre que alguém se destaca consegue-se arranjar algum parentesco com portugueses: Robert Pires, Francis Obikwelu (se calhar não), etc. Nem que seja um tio avô, filho de uma senhora cuja cunhada era portuguesa. É isto que gosto nos portugueses!

Mas voltando aos "States", fiquei bastante desiludido com os resultado. Mas isso também é secundário. O que interessa é que a RTP Memória já está no ar!