Setembro. Se existissem na língua portuguesa sinónimos para esta palavra penso que os melhores seriam melancolia, saudosismo, vazio interior. Chegou a altura de trocar a leve brisa de verão pela cortante rajada de vento outonal, a sufocante onda de calor solar pela não menos sufocante onda de calor dos cobertores de lã. Pior que tudo, trocar o leve deslizar pelas ruas de mochila cheia com toalha de praia e raquetes pelo pesaroso arrastar da mochila cheia... de livros e cadernos.
Temi estar a pactuar com a eutanásia precoce do Verão deste ano mas hoje, o dia em que para mim ele acaba oficialmente, até o próprio tempo resolveu pôr luto e chorar umas gotas de chuva, como que a dizer "Os meu pêsames, pessoal". Prefiro não pensar nos dias em que vou acordar cedo para a monótona rotina do levanta, come, arruma na pasta, sai a correr, "bom dia, stora, desculpe o atraso; o sumário? já escrevo!". Prefiro pensar nos dias em que acordei cedo para dar de caras com o sol de verão que acaba com qualquer restia de sono, ou naqueles que dormi até ser noite. Prefiro pensar em dizer "vou pra Caminha", em vez de sibilar "vou prá caminha". Prefiro tanta coisa a outras tantas que me vejo a fazer nos póximos 9 meses (vejam lá, até podia parir um filho no entretanto, se tivesse nascido de saias). É por isso que me recuso a aceitar que chegou setembro. Para mim, estamos em pleno julho e temos todo um verão pela frente para sair e sentar numa esplanada a ver o mar, as garinas, os sacos de cimento a boiar na água. Mas para nos acordar da miragem, alguem na mesa ao lado da nossa pede uma cerveja e o empregado responde com ar deprimido: «Cerveja? Só temos da vazia, "como um fim de verão!"»
quarta-feira, setembro 07, 2005
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